Nos dias atuais, as pessoas se mantêm ativas por muito mais tempo. Sendo assim, é comum cidadãos com anos de experiência e uma perspectiva ainda longa no mercado. Após a pandemia, muita gente viveu um período de reflexão e decidiu buscar novos ares para conquistar a felicidade e realizar sonhos. Dessa forma, os executivos devem abrir as portas de seus negócios para essa parcela da população compor os postos de funcionários ou até de estagiários. Entenda mais sobre o tema e os benefícios em não considerar a data de nascimento nas contratações.
A transição de carreira pode ser feita em qualquer idade
Hoje, os indivíduos não têm a preocupação, pretensão ou objetivo de passarem toda a sua carreira na mesma empresa. Da mesma maneira, esse assunto também não é mais visto como algo negativo pelas organizações. As relações estão mais fluidas e voláteis. Isso ocorre por vários motivos, desde os cenários econômicos cada vez mais instáveis, passando pelos processos de reestruturação das entidades e, mais recentemente, os aprendizados decorrentes da crise de Covid-19.
Esses fatores instigaram a população a rever vários aspectos no trabalho, como as tarefas, horários, satisfação e perspectiva de futuro. “A necessidade de estar constantemente atualizado para se manter competitivo e produtivo gera novos estímulos e pode abrir oportunidades e horizontes para quem busca conhecer o novo, arriscar, mudar a rota e o rumo”, comenta a superintendente da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Míriam Rodrigues.
Apesar de não ser um assunto simples e envolver aspectos relacionados a planejamento pessoal, “esse movimento é possível, desejável em alguns momentos e não possui contra indicação referente à faixa etária”, explica Míriam. Após a meia idade e diversas vivências, pode surgir o desejo de mudar, aprender e conhecer outras coisas, além de contribuir com os colegas e até compartilhar a bagagem adquirida nessa caminhada.
No caso do estágio, essa alternativa é bem interessante. Afinal, conforme a Lei 11.788/2008, não são apenas os jovens com possibilidade de desempenharem essa função. O único requisito é estar regularmente matriculado e marcando presença em uma instituição de nível superior, médio, técnico, na educação especial ou nos anos finais do ensino fundamental, na modalidade para jovens e adultos (EJA). Logo, trata-se de estudantes no início da trajetória laboral ou em transição de área. Portanto, são talentos frequentadores das salas de aula, com familiaridade digital, vontade de aprender e ajudar os mais novos com histórias e lições de conquistas, fracassos e desafios enfrentados anteriormente.
Além disso, alunos de pós-graduação, mestrado e doutorado também podem participar do programa. Sendo assim, são discentes em busca de capacitação, com o desejo de uma movimentação profissional e com disposição para enfrentar situações inéditas, utilizando seus saberes passados para encontrar soluções mais simples e assertivas para as tarefas do cotidiano. Também, servem como inspiração para os demais no âmbito pessoal.
O combate ao etarismo deve ser mais difundido
Etarismo é o nome dado ao preconceito com quem possui idade avançada. No mundo empresarial, nem sempre os integrantes sabem lidar com essa diferença. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - Dieese do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, cerca de 18% dos brasileiros estão com 60 anos ou mais, o equivalente a 37,7 milhões de cidadãos.
Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde - OMS, de 2021, 50% dos seres humanos cometem esse tipo de discriminação. Ou seja, esse é um desafio global para as companhias. Ambientes diversos, onde os membros são valorizados, representam bons centros de aprendizagem. É importante fazermos uma autorreflexão sobre a nossa comunidade”, destaca a diretora da Saab na América Latina, Marianna Silva.
Todos os dias, as diversas gerações se encontram, trocam pensamentos e atuam em equipe. “Eu me orgulho ao ver o compartilhamento de ideias entre funcionários idosos e jovens. Quando são colocados lado a lado, enxergo parceria e respeito. Acrescente a interculturalidade no desenvolvimento de projetos”, acrescenta Marianna.
É preciso buscar um novo olhar sobre a maturidade, para todos. Quão enriquecedor pode ser a combinação de alguém no início de carreira trabalhar ao lado de um companheiro mais vivido? Certamente, estaremos colhendo frutos daqui a algum tempo e, quem sabe, nossa discussão passe a ser outra”, complementa a diretora.
Como solucionar esse problema nas organizações?
Conforme o IBGE, a expectativa de vida aumentou bastante, alcançando 76,8 anos. A título de comparação, em 1940, esse índice era 45,5. Ainda, em 2031 a previsão é da maioria dos brasileiros ser composta por idosos. A integração desse grupo com a nova geração, naturalmente tecnológica, é um papel do alto escalão.
Nesse caso, o melhor caminho é a união. “A idade permite a construção de competências, resiliência, networking e conhecimento adquirido ao longo das décadas. Já o jovem, carrega a modernidade, a facilidade de se comunicar, busca autonomia, é entusiasta e desapegado, mas mantém os pés no chão”, ressalta o especialista em gestão de pessoas, Luiz França.
A pluralidade buscada pelas instituições deve superar essa barreira, pois além do respeito, essa prática traz benefícios para as contratantes. “Fica cada vez mais evidente como a formação de times múltiplos, com perfis, gêneros, orientações sexuais, raças e faixas etárias variadas, gera melhores resultados e entregas mais completas. Estamos caminhando para uma mudança total nos modelos de trabalho e na forma de olhar para a sociedade. Ainda teremos uma grande aceleração nessa tomada de consciência”, afirma França.
Portanto, não coloque esses obstáculos no seu negócio, crie uma cultura positiva, empática e promova a inclusão. Lutar contra todos os tipos de preconceito deve ser uma obrigação dos executivos para a evolução do nosso país. Afinal, na hora de selecionar um novo integrante, essas questões não devem ser levadas em consideração quando se tem potencial.
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