Ultimamente, o quiet quitting tem assombrado as lideranças, pois abrange a falta de envolvimento, entusiasmo e pertencimento do funcionário com a empresa. Muitas vezes, ele vem acompanhado da recusa para retornar e-mails ou do escape de tarefas extras consideradas fora dos encargos principais. Para combater esse cenário, as entidades devem avaliar cautelosamente a divisão de responsabilidades do quadro, identificados os possíveis equívocos e pontos de melhoria de ambas as partes. Logo, é indispensável diferenciar o estabelecimento de limites e o descumprimento de funções dentro da organização.
As possíveis causas das demissões silenciosas
Conforme um artigo da Harvard Business Review de 2022, elaborado pelos professores Anthony Klotz e Mark Bolino, os desistentes silenciosos continuam cumprindo suas incumbências primárias, mas menos dispostos a ficar até tarde, chegar cedo ou comparecer em encontros facultativos. Ademais, uma pesquisa publicada pelo Gallup aponta esse grupo como 50% da força de trabalho dos Estados Unidos, abrangendo em sua maioria integrantes da Geração Z e Millennials.
Fica nítido, portanto, como a dinâmica mercadológica mudou e é preciso atentar-se sobre tais movimentações para não se perder em meio aos acontecimentos. “A busca por uma vida mais equilibrada entre a área pessoal e profissional tem se tornado uma questão cada vez mais presente na vida das pessoas, especialmente após a pandemia da Covid-19. Os novos modelos de trabalho, por exemplo, foram um grande estopim para esse movimento no qual estamos presenciando”, destaca Cris Kerr, especialista em Diversidade e Inclusão.
Nesse sentido, a ascensão do teletrabalho trouxe inúmeras facilidades para o cotidiano laboral, mas também desencadeou em uma demanda excessiva de atividades. Afinal, a dispensa de uma deslocação tornou a casa das pessoas o próprio escritório, sendo possível resolver pequenos detalhes sempre quando necessário. No final das contas, o indivíduo fica sobrecarregado por não conseguir separar o tempo e espaço corporativo do seu lado pessoal.
Não obstante, o senso de pertencimento de significativa parcela dos colaboradores foi diminuído com o home office, pois o equilíbrio entre as individualidades e obrigatoriedades tornou-se um desafio comum. “Pessoas trabalhando de 12 a 14 horas porque estavam em suas casas, exigências por mais entregas e um acúmulo de horas extras, além da constante pressão por resultados cada vez maiores já não são mais aceitas e vistas como algo ‘normal’ no trabalho. Outro fator impactante é o sentimento de exclusão e de não pertencimento àquele ambiente”, ressalta Kerr.
Escutar os colaboradores é primordial!
De acordo com uma pesquisa realizada pela Reconnect Happiness at Work, 50% dos entrevistados afirmam se sentirem apáticos em seu atual cargo. Dentre as motivações, a baixa remuneração é a principal delas (41%) e, em seguida, vem a discordância com as atitudes de liderança (22%). Até mesmo a falta de reconhecimento ou conexão com os valores empresariais é uma problemática para outros 22%. Fica claro, portanto, como a escuta ativa sobre as necessidades do time pode ser uma excelente estratégia para controlar o quiet quitting.
Sendo assim, é de suma importância disponibilizar uma esfera acolhedora e com práticas constantes de valorização dos trabalhadores. “A forma mais efetiva de resolver conflitos, tanto do lado do empregado, como do lado do empregador, é insistir no diálogo, em feedbacks estruturados e na transparência das relações de trabalho, através da instituição de políticas éticas e francas entre todos os envolvidos”, conclui Thays Brasil, advogada trabalhista e sócia no Feltrin Brasil Tawada Advogados.
Aliás, o crescimento na carreira é algo muito valorizado pela sociedade nos dias atuais. Por isso, o alinhamento de valores é essencial para uma parceria de sucesso. “Tanto a higidez física, como a mental, inclusive emocional, do ser humano são bens fundamentais de sua vida, privada e pública, de sua intimidade. Além de sua autoestima e afirmação social e, nessa medida, também de sua honra. São bens imateriais, inclusive, tutelados pela Constituição Federal (artigo 5º, V e X)”, reforça Thays.
O bem-estar é a prioridade da vez!
Segundo o relatório Employee Stress Check 2022, publicado pela Talkspace, 50% dos trabalhadores se sentem esgotados e 57% dos entrevistados valorizariam ainda mais o seu atual emprego se oferecessem mais auxílios e incentivos voltados para o bem-estar mental. Por essa razão, a autonomia e reconhecimento podem ser grandes aliados na retenção de talentos e diminuição nos índices de turnover. Desse modo, evita-se a queda da produtividade dos times e gastos com rescisão de contratos e novos processos seletivos.
Em suma, os líderes precisam ter uma visão holística sobre as necessidades de seus funcionários. Afinal, somente dessa maneira será possível atender às suas expectativas e estabelecer uma cultura organizacional equilibrada. “Para se sentirem motivadas, pessoas precisam ser de fato incluídas e terem a consciência de como suas individualidades são valorizadas e respeitadas pela liderança e equipe. Uma boa pergunta a se fazer é: estou criando um ambiente verdadeiramente inclusivo? Isso é um fator crucial para os indivíduos doarem o melhor de si e, assim, as empresas alcançarem os seus objetivos”, finaliza o especialista em Diversidade e Inclusão.
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