Estratégia imprescindível para o futuro, a liderança compassiva tem os pés bem firmados em mudanças necessárias a serem feitas no presente. Para se tornar quem escuta com atenção, compreende com respeito, reconhece a importância da empatia e tem a colaboração de sua equipe como prioridade, é necessário refletir sobre seis competências essenciais ao novo CEO.
Essas habilidades são elencadas por Ligia Costa, professora na Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas e especialista em gestão organizacional. Acompanhe:
- Humanidade
Este é um primeiro passo e, por isso, importante e decisivo. “Para exercer essa abordagem, é preciso sair do ego e identificar-se com a própria humanidade para deparar-se com a humanidade do outro. Coordenar não é ser isolado em suas escolhas e decisões. Ao contrário, é parte do todo e isso, justamente, é ser humano”, destaca.
Para atingir esse estado de compreensão se faz necessário trabalhar a autoconsciência. “Isso consiste em observar as emoções e sentimentos, respeitando os benefícios trazidos pela intuição. Nesse sentido, conseguir parar antes de esboçar qualquer reação diante de um desafio e mesmo uma provocação, é o grande segredo”. Se a insegurança for um obstáculo no meio do caminho, há uma técnica simples para dissipar aqueles pensamentos sabotadores. “Os resultados são surpreendentes”, garante a especialista. Veja:
- Pense na situação;
- Faça três respirações para estabilizar e regular as emoções;
- Reflita se a insegurança advém de algum viés inconsciente guardado dentro de si;
- Enfrente tudo em sua frente e verifique se os sentimentos não são padrões automatizados;
- Transforme uma resposta reativa em uma reação mais coerente.
- Presença
Esta segunda habilidade essencial vem para mostrar como ser multitarefa está longe de ser produtivo. “Pelo contrário. Todo excesso de informação gera distração, estresse e ansiedade. Assim, a meditação mindfulness é uma grande aliada no exercício de se manter presente no momento. A prática contemplativa multissensorial pode ser realizada enquanto se está sentado, em pé, deitado, durante as alimentações, caminhando ou até em posturas suaves de alongamento”.
- Coragem
Professora e pesquisadora da Universidade de Houston, nos Estados Unidos, Brené Brown é uma referência no assunto. “Para ela, os empecilhos para esse modelo de liderança são a autocrítica, a expectativa da aceitação por parte do outro, o desejo de pertencer o tempo todo, a impermanência no presente e o não ouvir o próprio coração”, aponta.
Dentro e fora do mundo corporativo, frequentemente se busca aceitação, pertencimento e reconhecimento. “Contudo, quem só diz ‘sim’ pode levar os outros a se perguntarem: ‘Será que essa pessoa concordando sempre com tudo não tem criatividade e amor-próprio?’. Corajosamente, é preciso coerência consigo mesmo nesse caminho”, complementa a professora.
- Inclusão
A inclusão vai além da empatia. Para Ligia, a gestão desse tipo não se limita apenas a enxergar o mundo pela ótica do outro, mas, efetivamente, ser facilitadora para incluir pessoas diversas, respeitando suas necessidades e seus interesses nos ambientes organizacionais. “Para incluir, verdadeiramente, é preciso ter determinação para seguir os valores nos quais acreditamos e estarmos dispostos a testar novos modelos. Esse é, de fato, um exercício diário, o qual consiste em saber conduzir conversas difíceis, trabalhar a imparcialidade e não o julgamento, aceitar e estar a serviço do outro”.
- Interconexão
Da consciência de estarmos ligados e alinhados em uma rede vem a interconexão e a certeza de como gerenciar um time dessa forma requer a entrega às nossas inteligências física, mental e espiritual. “Quando compreendemos como tudo faz parte do todo nessa dimensão interconectada, permitimos à realidade de nossa alma também estar presente. Além do tato, paladar, olfato, da visão e audição, é preciso ficarmos atentos à percepção, sensibilidade, sincronicidade e à inspiração”, continua Ligia.
- Compaixão
Esta habilidade aponta para a necessidade de nos tratarmos com mais gentileza, dizendo a nós mesmos “está tudo bem”. “Muitas pessoas ainda acreditam na autocrítica e a dureza com os próprios erros e fragilidades como algo bom. Na verdade, esmiuçar o fracasso, punir-se diante de uma falha e se culpar não farão de você uma pessoa melhor. Pelo contrário, essas atitudes alimentarão a sensação de ‘não ser bom o bastante’”, constata a especialista.
Ao invés de ter uma atitude assim, é vital enxergar-se como um bom amigo. “Pratique a auto compaixão. Ela é o segredo para termos resiliência. Veremos como é possível encarar os deslizes com um olhar otimista e curioso, para tentarmos novamente, ainda com mais entusiasmo”.
Luciana Matias, estudante de pedagogia, acredita na necessidade de ter uma boa relação com os chefes para poder atuar de maneira assertiva. “Não sei se eu conseguiria ter bons resultados se não sentisse empatia vindo de cima. Isso gera muitos conflitos”, compartilha a universitária. Certamente, essas características podem ajudar - e muito - na hora de obter resultados com o time, além de aproximar a relação entre quem supervisiona e quem compõe os pares.