Implícita em oportunidades e vagas de emprego, a criatividade é uma das soft skills (habilidades comportamentais e socioemocionais) mais valorizada pelas organizações e recrutadores no geral. Na prática, a vida adulta exige mais da capacidade de pensar fora da caixa, sobretudo para resolver problemas, encontrar novos caminhos e apresentar resiliência para lidar com as dificuldades próprias de alguns setores.
É preciso se adaptar
O desafio é grande, principalmente porque boa parte da geração atual na disputa por uma colocação no mercado não foi treinada para lidar com questões envolvendo seus sentimentos e capacidades de raciocínio, aplicados no dia a dia. “O mundo globalizado e a Indústria 4.0 requerem cada vez mais um perfil esperto, perspicaz, rápido, dinâmico e humanizado”, detalhou Karla Clarinda, especialista em carreiras.
Assim, de acordo com ela, quando falamos de pessoas, precisamos colocar em prática a empatia. “Hoje, ter boas ideias não é uma solicitação feita apenas nos nichos de comunicação, propaganda ou design, mas sim aos de todas as áreas de atuação. Neste momento, no qual fazer mais com menos é uma necessidade, ter boas ideias é um diferencial capaz de tornar o profissional mais competitivo”, diz.
A boa notícia, segundo a especialista, é a possibilidade de desenvolver essa característica, mesmo ao longo da vida adulta. Contudo, lidar com a realidade pode ser difícil. Muitas vezes a pressão pelo resultado, o medo dos julgamentos e o de discordar dos colegas prevalece e o raciocínio não flui.
Segundo Lívia Ciacci, neurocientista do Supera, a maior parte do pensamento inovativo é subconsciente e podemos estimulá-lo nos colocando em situações responsáveis por exigir flexibilidade. Assim, ela cita três questões importantes para ambientes de trabalho mais criativos. São elas:
Espaços para expressão. “Não são apenas mesas compartilhadas, painéis de vidro e pufes, mas diz respeito à cultura de valorização da experimentação, dos testes em forma de projetos a médio e longo prazo, escritórios abertos e líderes acessíveis. Significa permitir aos colaboradores o envolvimento em iniciativas conectadas com seus propósitos para criar sem a represália da punição caso os resultados não sejam bons. Empresas quando entendem o processo enxergam os fracassos como aprendizados em direção ao sucesso”, detalhou.
Metodologias de reuniões. Um erro muito comum quando se pretende estimular esse aspecto é colocar toda a equipe em uma sala e dizer “vamos, digam suas sugestões”. Não funciona dessa forma. Geralmente esse tipo de “brainstorming” com muitas pessoas e sem seguir uma lógica de raciocínio não é nada rentável. “O ideal é oferecer a cada um certo tempo para estudar sobre o tema a ser ideado, colher referências. Em seguida, cada um faz um trabalho solitário de propostas e listas de possibilidades. Só depois vem a fase do grupo, onde todos anotam suas contribuições e então tudo anotado é discutido, recriado e priorizado com base nos objetivos”.
Esse fluxo, segundo Lívia, é apenas um exemplo de direcionamento mais produtivo, existem outros métodos, basta o líder ou o time se empenharem em escolher aquele mais adequado. Assim, é possível favorecer a participação de todos e minimizar os vieses de grupo.
Políticas de gestão do conhecimento: uma companhia criativa deve se atentar para dois tipos de políticas de gestão do conhecimento: as formações continuadas e o funil de ideias. A primeira é feita para as staffs continuarem aprendendo e atualizando repertório. O segundo consiste em estratégias para criar um canal no qual os indivíduos podem expor pensamentos para os mais diversos objetivos.
Como o treino cognitivo pode ajudar?
O nosso cérebro está em constante mudança, devido a sua condição de neuroplasticidade. Dessa forma, estímulos envolvendo novidade, variedade e grau de desafio crescente oferecem mais criatividade por meio da prática de ginástica para a mente. “Precisamos nos permitir e criar novas conexões. Para adultos em fase produtiva, esse recurso oferece excelentes benefícios diretamente ligados à performance, capacidade de entender o mundo, tomada de decisões e, consecutivamente, sucesso profissional e pessoal”, concluiu Livia.