Ainda falta muito, mas as empresas de tecnologia têm buscado ser ambientes mais respeitosos quando falamos da presença da comunidade LGBTQIA+ no mercado de trabalho. Essa não é uma preocupação apenas corporativa, é uma necessidade real e urgente, a qual mexe diretamente com a vida de muitas pessoas.
A gerente de SRE da Sanar, Alice Paixão, desabafa sobre uma escolha relacionada a quais organizações ela escolheria atuar. “Decidi optar somente por empresas apoiadoras da diversidade e desde então minha saúde mental é outra. Ninguém infere sobre o seu relacionamento, sou livre para ser eu mesma tanto com minha gestão quanto meus liderados e clientes”.
Ela conta como, no passado, já sofreu muito com o preconceito. “No meu primeiro trabalho eu tinha de me dividir em duas pessoas, profissional e pessoal. Me doía quando falávamos sobre nosso final de semana e eu precisava trocar o pronome da minha namorada e simular estar com um homem, com medo de sofrer homofobia ou até mesmo perder meu emprego”, conta.
A desenvolvedora de software, Carol Santos, também relata dificuldades enfrentadas. “É muito difícil se posicionar quando não se tem uma rede de apoio e também é duro ser forte o tempo inteiro para ignorar as “piadinhas” e comentários de ódio enrustidos de opinião própria”, afirma.
O mês de junho, marcado pela mobilização e luta para respeito à pluralidade e pelo Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, já acabou. Entretanto, esse debate deve se estender para o ano inteiro. Assim, veja relatos de profissionais membros da comunidade para saber como tem sido suas rotinas no “mundo das startups”.
Afinal, este é mesmo um ambiente mais agradável?
Para o awareness da Sanar, Marcelo Cravo, a pergunta pode ser respondida com tranquilidade. “Já tive experiência em outra startup e sinto existir um local mais "seguro" e acolhedor para a gente. Eu me sinto completamente à vontade para ser quem eu sou e nunca fiquei com nenhum tipo de dúvida sobre a minha qualidade de entrega por ser gay”, conta.
O crescimento econômico do mercado e a necessidade de contratar colaboradores mais qualificados é outro ponto capaz de contribuir para a melhoria do cenário. “A alta procura por desenvolvedoras e pessoas da área de tecnologia em geral tem feito muitas empresas se modernizarem em uma velocidade maior e abraçarem mais grupos de diversidade”, explica a gerente de tecnologia, Priscila Lopes.
É preciso mais estudos para avançar
No Brasil, o preconceito se reflete também na falta de números. Praticamente não há dados oficiais sobre a população LGBTQIA+, afinal, pesquisas nacionais, como o Censo, ainda não abordam a orientação sexual e a identidade de gênero. Em janeiro de 2021, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos de São Paulo lançou o 1º Mapeamento de Pessoas Trans da cidade, mostrando como apenas 58% da população transexual e travesti atua em funções remuneradas, sendo a maioria no mercado informal.
Com o objetivo de avançar nesse aspecto, a consultoria Mais Diversidade realiza uma pesquisa para mapear os perfis pessoal e profissional da população desse grupo no mercado de trabalho. A intenção é coletar dados para tornar mais claros os obstáculos e as dificuldades enfrentadas por pessoas componentes da sigla. “Atuei em organizações nas quais eu era motivo de risadinhas, simplesmente por não baixar a cabeça e fingir ser quem eu não era”, comenta Marcelo Cravo.
O que esperar do futuro?
Quando pensa no futuro, Priscilla Lopes é otimista. “Espero ver entidades genuinamente se preocupando com o acolhimento e cuidado com a carreira das funcionárias LGBTQIA+. Nenhuma pessoa deve se esconder ou "disfarçar" sua identidade por conta de julgamentos da sociedade”, diz.
Clara Brito é estagiária e está no começo da sua trajetória profissional. A jovem espera ter sua jornada construída em um ambiente cada vez mais saudável. “Eu só gostaria de continuar a ser tratada com respeito por meus superiores e pares, porque de nada influencia a minha sexualidade”, explica.