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As tecnologias de acesso digital passaram a ser companhia diária de quem fica conectado por motivos de lazer, entretenimento, trabalho, estudos, entre outros. O mundo está cada vez mais virtual e digital, e o celular, agora, é objeto de uso constante pela grande maioria das pessoas. Porém, apesar dos diversos benefícios trazidos pelo desenvolvimento e acesso tecnológico, é necessário voltarmos as atenções para o seu uso abusivo, que pode oferecer males significativos para a vida dos usuários.

Dentro desse contexto, um exemplo é a nomofobia, uma síndrome tecnológica cujo nome surge da junção da palavra em inglês “no-mobile” – ou seja, a condição de estar sem o celular – e “fobia”, que significa medo e vem da expressão grega “fobos”.

De acordo com o artigo “Nomofobia: O vazio existencial”, de Kathyelle Souza e Manuella da Cunha, a nomofobia é um transtorno que envolve sintomas como ansiedade, nervosismo, angústia, entre outros, relacionados ao medo de ficar desconectado ou sem acesso aos dispositivos. Segundo a obra, “cerca de 6% das pessoas que usam a internet apresentam um comportamento compulsivo em relação à tecnologia”, o que muitas vezes causa consequências negativas em áreas como o desempenho acadêmico e profissional.

As autoras afirmam que o termo clínico usado para descrever a nomofobia é o de “comportamento compulsivo possibilitado pela internet” ou “compulsão de mídia digital”, que se refere a todas as ferramentas tecnológicas e ocorre quando há falta de controle e aumento da intensidade sobre o uso tecnológico, de modo que os “nomofóbicos” não conseguem se desvincular dos aparelhos.

O artigo descreve ainda algumas características do comportamento das pessoas que são consideradas “nomofóbicas”, entre elas: o costume de manter o aparelho móvel o mais perto possível, deixar o celular sempre ligado, ter a impressão de escutar o celular tocando, utilizar o aparelho celular em qualquer ocasião e lugar, e preferir usar o celular a interagir com outras pessoas presencialmente.

Esta última característica ganha destaque, já que o uso exagerado da tecnologia, relacionado ao prazer e à satisfação momentânea, pode provocar problemas nas interações interpessoais e distanciamento social.

Outro artigo, de autoria de Cleber Bianchessi, intitulado “Nomofobia e a dependência tecnológica do estudante”, afirma que é irracional o grau de desconforto gerado nos usuários ao sentirem ou pensarem que podem ficar sem acessar seus smartphones.

“Os indivíduos com a nomofobia, ao se sentirem impossibilitados da conexão tecnológica, podem manifestar sintomas físicos, como: ansiedade, tremores, falta de ar, sudorese, tontura e até mesmo ataque de pânico”, descreve o autor.

O uso consciente das tecnologias
Segundo Bianchessi, um estudo feito na Grã-Bretanha constatou que 53% dos usuários de celulares do local tendem a ficar ansiosos quando “perdem o celular, ficam sem bateria ou crédito ou não têm cobertura de rede”.

No Brasil, os dados também são alarmantes. Um levantamento feito pela Sortlist indica que os brasileiros gastam mais de dez horas por dia usando a internet, o que equivale a 154 dias conectados por ano. Os dados mostram também que, no país, a população gasta quase quatro horas usando redes sociais diariamente, tempo que totaliza 56 dias de acesso anuais. No ranking dos países que mais usam a internet, feito pela empresa, o Brasil fica em segundo lugar, perdendo apenas para as Filipinas.

Já um levantamento feito pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube) mostra que, entre os entrevistados, 27,14% afirmam que conseguiriam ficar somente até 24 horas sem usar o celular, enquanto 10,58% consideram impossível ficar mais de seis horas sem estar em contato com o dispositivo.

Há de se ressaltar que o problema não é a tecnologia em si, ou o seu acesso. Ambos os artigos indicam que o prejudicial é o uso excessivo e inadequado do celular ou outras tecnologias, que passa a ser preocupante quando são apresentadas alterações emocionais e comportamentais nos usuários, afetando suas vidas pessoais em diversos aspectos.

Cleber Bianchessi alerta também sobre a dependência da conexão em excesso que causa a nomofobia, pois “na abstinência dos dispositivos móveis, os sintomas se assemelham aos da síndrome de abstinência de drogas como álcool e cigarro. Por esses motivos, a nomofobia pode ser considerada uma desordem do mundo moderno, derivada dos avanços produzidos pela comunicação virtual e desenvolvimentos tecnológicos.”

Assim, o cuidado maior tem que ser em relação à utilização desregrada das tecnologias, ao ritmo frenético de informações e aos conteúdos digitais aos quais temos contato constante e acelerado, pois, como destaca Bianchessi, “a finalidade primeira desses dispositivos móveis foi para serem janelas, e os usuários insistem que sejam paredes, visto que cercam, escondem e camuflam a realidade”.

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