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Segundo dados do Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf) de 2018, no Brasil, três em cada dez jovens e adultos de 15 a 64 anos são considerados analfabetos funcionais, o que representa 38 milhões de pessoas que não conseguem interpretar textos simples, como bilhetes, notícias, gráficos, mapas, anúncios.

O sistema de ciclos, ou progressão continuada, tem sido tema constante de discussões desde o início dos anos 1980 e, na década seguinte, foi implantado em diversos estados e municípios brasileiros, e divide opiniões até hoje. Apesar de não ser exatamente um mecanismo de “aprovação automática”, os alunos, de fato, não repetem de ano como no sistema de séries e podem ser reprovados apenas depois de um ciclo completo de aprendizado, que pode levar de três a cinco anos.

Ou seja, a maior diferença está no tempo de avaliação do aprendizado, pois, enquanto o sistema de séries promovia ou reprovava os estudantes no fim de cada ano, o sistema de ciclos só pode reprovar ao fim de um ciclo. No caso do ensino fundamental, os ciclos vão do 1º ao 3º ano, do 4º ao 6º e do 7º ao 9º. Teoricamente, o aluno que passa para o ano seguinte sem ter assimilado o conteúdo do ano anterior deve ter aulas de reforço para não atrasar o processo de aprendizado. Mas, infelizmente, muitas vezes a medida só fica na teoria.

Dados do Censo Escolar mostram que mais de 92% dos alunos não são reprovados entre o 1º e o 5º ano, o que significa que uma criança entre 10 e 11 anos pode não saber nem sequer ler e escrever. Para muitos, a ideia dos ciclos não é piorar a qualidade do ensino; porém, na prática, é o que temos visto tanto nos resultados de exames como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) quanto na dificuldade de entrada no mercado de trabalho.

De acordo com um levantamento feito em 2022 pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), 83,5% dos jovens não conseguem ingressar no mercado de trabalho por apresentar “conhecimento gramatical insuficiente”. O estudo considerou o desempenho de 59.776 concorrentes, dos quais apenas 16,5%, cerca de 9.845, passaram adiante nos processos de recrutamento e seleção. Praticamente 50 mil candidatos foram desqualificados nas primeiras fases de avaliação por não apresentar um nível de português adequado.

Mas, independentemente das discussões acadêmicas, os resultados práticos não parecem nada promissores e, no meio do fogo cruzado, são os próprios jovens, principalmente os oriundos de escolas públicas, que acabam sentindo na pele os prejuízos que a falta de conhecimento traz.

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