Preocupações com contas em atraso podem desencadear uma série de complicações pessoais, físicas e profissionais, devido, principalmente, pelas condições emocionais criadas. O estresse gerado tende a causar insônia, resultando em alterações de humor as quais afetam negativamente o relacionamento pessoal, consequentemente, diminuindo a produtividade e capacidade de concentração no ambiente de atuação. Ademais, os próprios danos emocionais causados também têm um efeito significativo no rendimento individual.
Logo, apesar deste ser um problema não ligado diretamente ao ambiente laboral, é como uma bola de neve impactando o mesmo. Por essa razão, é interessante, por parte das empresas, dedicar certo auxílio aos colaboradores nesse sentido, com uma educação do assunto mais aprofundada para não ficarem no vermelho. Saiba mais sobre a importância dessa ação e como colocá-la em prática.
Endividamento e mal estar: uma realidade dura
Uma pesquisa realizada no Reino Unido, denominada “The Employer's Guide to Financial Wellbeing”, contou com mais de dez mil trabalhadores e mostrou como os colaboradores endividados ou com preocupações relacionadas ao dinheiro produzem, em média, 15% a menos se comparado aos demais colegas. Sobre o endividamento, conforme Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor) divulgada em maio, a parcela de famílias brasileiras passando por isso chegou a 78,3% em abril deste ano. A taxa é a mesma observada no mês anterior, mas está acima dos 77,7% de abril de 2022. A previsão é do percentual de 78,3% se manter nos próximos dois meses e subir para 78,4% em julho, segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).
A inadimplência também voltou a crescer e atingiu um nível recorde em março de 2023, segundo dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e do Serviço de Proteção ao Crédito. Os mais atingidos são aqueles entre 30 e 39 anos. Mais de 16 milhões estão nessa circunstância, quase a metade da população dessa faixa etária.
Neste cenário, o setor de recursos humanos tem o poder de tomar algumas medidas para ajudar, seja por meio de parcerias possibilitando o acesso ao crédito consciente ou a distribuição de conhecimento relacionado ao tema. “Uma pessoa com suas finanças bem planejadas, consegue direcionar verba ao autodesenvolvimento, a aquisição de ferramentas necessárias para a vida profissional e para momentos de lazer, por exemplo. Quanto mais bem organizado está o futuro, é fácil lidar com os imprevistos. Isso é a chave para ter saúde mental e estabilidade, refletido diretamente no desempenho profissional”, afirma Gustavo Cerbasi, especialista em inteligência financeira e sócio da plataforma SuperRico.
Uma resolução desse impasse traz uma qualidade de vida, com menos ansiedade e mais tranquilidade para lidar com os desvios ao longo do caminho. “A falta de dinheiro pode gerar desconfortos emocionais, pessoais, físicos, etc. Muitos trabalhadores terminam não tendo o rendimento necessário por conta das dívidas, causando muita preocupação e doenças”, expõe Felipe Gomes, CEO da ContaFuturo.
Todo esse contexto influencia, inclusive, no sono, com possíveis insônias e um mal descanso. “Dormindo melhor, a pessoa acorda renovada e com elevadas condições de trabalho, de produtividade e de motivação. Assim, o planejamento financeiro interfere na carreira”, pontua Cerbasi.
O cuidado com as finanças é fundamental em momentos instáveis
Com a pandemia e o isolamento social obrigatório instituído em 2020, o mercado como um todo se viu na precisão de instituir mudanças significativas para não gerar um colapso ainda mais na crise econômica. Com isso, o home office se expandiu ainda mais e houveram adaptações para as casas se tornarem aptas a atuar não somente como lar dos moradores, mas também o local de ofício.
Assim, certas coisas passaram a ser mais procuradas e valorizadas, como uma Internet mais rápida, um espaço reservado, isolamento acústico, etc. As demandas em geral eram variadas, de acordo com a profissão de cada um. Contudo, em uma época tão incerta e de modificações, ficou evidente como as famílias com as finanças organizadas passaram por menos dificuldades com esse movimento e, até mesmo, com o desemprego em alguns casos. “Aqueles com planos de curto, médio e longo prazos, diante da necessidade de mudança, cancelaram viagens, cursos ou pequenas reformas e realocaram as verbas nas melhorias necessárias para se adaptar ao novo formato”, ressalta o executivo.
Todavia, outros períodos também entram nessa análise, como, por exemplo, uma transição de carreira. Todo o estilo de existência de alguém está atrelado à capacidade de pagamento em condições de estabilidade. Em uma situação como essa, há a diminuição ou uma instabilidade na renda durante um tempo.Logo, não há bem dicas certas de como passar por isso, é preciso paciência, cuidado e economia. “É necessário, então, adotar um padrão compatível com a incerteza. Flexibilidade é a palavra-chave”, garante Cerbasi.
De qualquer jeito, é uma temporada de foco, tanto na busca por novas habilidades, capacitações e sabedoria, como no sentido de não se desviar verba para temas não urgentes. “Mesmo para quem tem casa própria, entra aqui a discussão sobre alugar uma moradia mais compacta, adotar um estilo mais simples, minimalista. Isso porque, nessa transição, já há o estresse natural da novidade. Se juntarmos a isso a preocupação com muitas contas a pagar, o resultado é uma ansiedade a qual pode levar, por exemplo, a problemas de sono, prejudicando a inspiração, a criatividade, a motivação, tudo aquilo essencial para a nova ocupação. Então, o objetivo é ter leveza nas escolhas para encarar essa fase da melhor forma possível”, finaliza o especialista.
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