Os últimos dois anos foram repletos de emoções e mudanças na sociedade. A Covid-19 foi assustadora, matou mais de 680 mil pessoas no Brasil e acumula quase 35 milhões de casos, aumentando ainda mais esses números todos os dias. Isso impactou diretamente toda a população, o mercado e a economia. Com o isolamento social, principalmente, a mentalidade da sociedade se alterou e muitos alunos se encontraram em um estado de desânimo com os estudos e sem perspectivas de futuro para pensar na carreira. A saúde mental da maioria das pessoas foi abalada e 2022 é o ano de buscar incentivo para tudo se ajustar novamente. Contudo, as coisas mudaram e novas medidas devem ser tomadas para alcançar esse objetivo. Veja agora sobre os principais impactos do vírus na aprendizagem e quais os desafios acerca do tema.
A volta para a escola depois de tanto tempo distante
Crianças e adolescentes retornaram às aulas presenciais, após esse tempo de confinamento. Os pais estão preocupados com o atraso escolar de seus filhos, evidenciado pelo desempenho apresentado no primeiro semestre. Dificuldades para memorizar a tabuada, leitura em ritmo pausado e outras situações trazem a preocupação e dúvida de como trabalhar com os atrasos deixados.
Devido à pandemia vivenciada mundialmente, fez-se necessário olhar de maneira mais peculiar para o ser humano em sua integralidade, cognitivo, motor, social e emocional, algo até então, velado e justificado por rotinas cheias de tarefas e obrigações. “Assim como em alguns países vivem ou já viveram uma guerra, o término da pandemia pode ser comparado ao trauma de um pós-conflito, onde essa vivência será ressignificada pelo tempo e aprendizado, porém permanecerá como uma memória acompanhando o indivíduo para o resto de sua vida”, comenta Daniela Beraguas Tarjino, coordenadora da Educação Infantil e 1º ano do Colégio Presbiteriano Mackenzie.
De acordo com Lima e Valim (2021), os impactos da doença serão sentidos de maneira gradual e esses alunos serão progredidos quanto à etapa de ensino, porém com uma defasagem não somente acadêmica, indo além dos muros do colégio. Por essa razão, uma boa ideia é se inclinar para a base, lá na infância, e oferecer preditivos para uma alfabetização consciente e consistente, em relação ao progresso integral da criança. Isso porque antes de chegar na leitura e escrita, passamos por um caminho chamado processo de alfabetização, consistente ao vindo antes. “A oralidade é algo presente na vida dos pequenos, desde o ventre materno. Sendo assim, o desenvolvimento dela acontece no ambiente familiar, escolar e na interação com os pares. Com essa interrupção e confinamento acometidos pela pandemia, essas relações são abaladas, onde se percebe uma lacuna no repertório oral dos mesmos, o qual impacta significativamente na alfabetização”, explica a professora.
A leitura com foco nos clássicos e repertório popular, conversas, brincadeiras orais e motoras, são incentivadas e priorizadas nesse retorno da vida acadêmica, pois é preciso descer o degrau de evolução mal alicerçada para avançar o esperado, de acordo com os marcos do infantil. “As escolas devem, então, converter as suas rotas e parâmetros no sentido de retirar a Educação Infantil do assistencialismo cultural”, esclarece Daniela.
A saúde mental como um fator em evidência
Estudos demonstram como as crianças e os adolescentes foram as faixas etárias mais afetadas pelo isolamento. A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) aponta como o coronavírus expôs problemas de saúde mental, sendo um dos mais graves o fato de muitas terem deixado de frequentar as instituições de ensino. Isso gerou provavelmente a maior crise educacional dos últimos tempos na região das Américas. Jovens da pré-escola e dos primeiros anos do ensino fundamental foram as mais desfavorecidas. “Além da alfabetização, o desenvolvimento oratório também ficou fora do compasso. O entendimento do papel social da leitura também teve defasagem. As crianças com ambientes familiares onde estes aspectos foram incentivados foram menos impactadas quando comparadas às preparadas em condições mais vulneráveis ou onde ocorreu descaso parental”, aponta Helen Mavichian, psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Aspectos de socialização e inseguranças psicológicas também levaram responsáveis e pedagogos a se questionarem qual seria o caminho ideal para reverter os retardos. Toda essa situação de crise sanitária levou ao enfrentamento de empecilhos no crescimento das competências socioemocionais. Especialistas afirmam a intervenção dentro de casa sendo incapaz de substituir o ambiente físico escolar. “A convivência diária com os amiguinhos, ou seja, o encontro com seus pares, é uma experiência necessária, única e imprescindível. A interação é um dos principais pilares para o desenvolvimento da cognição social. Mesmo os adultos em casa criando brincadeiras e gerando conhecimento, a tendência é ter menos profundidade se comparado aos professores, os quais dedicaram toda sua formação aos processos de aprendizagem”, explica a terapeuta.
No geral, são diversos os empasses e ainda não há consenso sobre a melhor forma de superá-los, contudo existem pequenas ações a serem implementadas. Um dos passos mais importantes é investir na educação emocional e no acolhimento da criança, amparando seus sentimentos dentro do colégio. Além disso, podem ser proporcionadas atividades extracurriculares, fora do horário regular dos ensinamentos. No mais, períodos de revisão, lições de casa extras e atividades lúdicas podem ter mais aceitação e resultados positivos. Incentivar a leitura, a compreensão de textos e a elaboração de redações. Usar as tecnologias para superar as defasagens pedagógicas pode ser um recurso complementar para aprimorar o ensino com criatividade, seja com vídeos, jogos educativos, estímulo à pesquisa na Internet e assim por diante.
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