Como anda as suas entregas no trabalho ou nos estudos? Você acredita estar dando o melhor de si? Independentemente da resposta, essa não é uma tarefa fácil. Embora seja normal nos encontrarmos rodeados pela autocobrança e constante pressão externa sobre nosso mais alto desempenho, é preciso compreender como nem sempre conseguimos dar conta de tudo. Atualmente, a ansiedade e estresse tem se mostrado algo normal no dia a dia dos indivíduos, tendo em vista a correria crescente de obrigações profissionais e pessoais. Não obstante, dados do Google apontam um aumento de 4 mil por cento nas pesquisas sobre meditação em 2020, ano marcado pela pandemia. Nesse contexto, entenda melhor sobre a importância de preservar uma mente relaxada em prol da saúde e fluidez dos pensamentos.
É preciso tentar relaxar
De acordo com o estudo 360 Wellbeing Survey 2019: Well and Beyond, realizado pela companhia de seguros de saúde para empresas Cigna, 42% dos espanhóis praticam esportes a fim de manter o estresse sob controle. Para 34% dos entrevistados, conversar com os familiares e amigos também é de grande ajuda. Quanto à ideia de cultivar um hobby fora do trabalho, 24% são adeptos a ela. Ademais, 21% acreditam em como dormir mais e outros 20% em como passar mais tempo com quem se gosta pode reduzir os danos causados por uma cabeça cheia. Por essa razão, aumentou-se a busca por novos meios de aquietar os ânimos.
Hoje em dia, está cada vez mais difícil passar um dia inteiro tranquilo sem se preocupar com nada, sendo o desligamento da realidade uma experiência quase impossível para muitos. Por isso, há uma intensa tentativa de promover uma cultura de zelo pelo bem-estar do quadro por parte das instituições. “Muitas empresas reconheceram o alto retorno de investimentos em saúde mental nos últimos anos. Porém, em muitas companhias os colaboradores não se sentem suficientemente seguros psicologicamente, um requisito fundamental para criar uma cultura aberta e de cuidado, com alto engajamento em benefícios de saúde mental”, comenta Ines Hungerbühler, psicóloga, pHD e Líder do time clínico do Wellz.
Como saber se realmente estou sobrecarregado?
Como nem sempre conseguimos contemplar o lazer de estar nas praias e campos, é preciso detectar os nossos pontos de esgotamento na rotina. Pensando nisso, Luiz Mafle, psicólogo, professor e Doutor pela PUC Minas e Universidade de Genebra, elencou alguns fatos para ajudar a identificar os quadros de sobrecarga:
Tudo à flor da pele: há uma intensa irritabilidade, da qual a pessoa passa a reagir de forma agressiva ou até mesmo sensivelmente chorar por qualquer tipo de comentário. “Isso acontece porque ela está tentando se livrar de outra demanda”, orienta.
Insônia: as inúmeras tarefas consomem a cabeça repleta de pensamentos na hora de descansar. “Com o sono desequilibrado, o cansaço se torna ainda mais frequente. Além disso, começa a gerar impactos na rotina e também na saúde física”, acrescenta.
Perda de rendimento no trabalho: as insatisfações vão além da vida pessoal e podem afetar negativamente o seu grande potencial no ofício. “Normalmente, quem está sobrecarregado se sente desmotivado e com dificuldades de concentração, podendo impactar diretamente na rotina profissional. Além disso, a irritabilidade e os sentimentos à flor da pele podem provocar conflitos entre os colegas”, conta.
Aumento ou perda de apetite: não somente a saúde mental como a física pode ser prejudicada sem a devida atenção. “É possível uma grande parcela esquecer de comer e outra descontar os sentimentos na alimentação. Necessitamos olhar com cuidado e entender porque está acontecendo esse desequilíbrio nutricional. Isso pode ser um sinal do corpo e mente precisando de ajuda”, alerta.
Sentimento de fracasso: “com tantas atividades sob seu controle, a pessoa sobrecarregada muitas vezes não consegue dar conta de tudo, se sente frustrada e com o sentimento de desamparo. Ela começa a abraçar o mundo e isso a sufoca e frustra”, pontua.
Ansiedade: ir além dos nossos limites pode trazer inúmeras aflições. “O cansaço mental pode vir acompanhado de dores no peito, falta de motivação e crises de ansiedade. Com tantas preocupações é comum os indivíduos ficarem mais ansiosos e começarem a criar cenários em sua cabeça, podendo aumentar ainda mais os gatilhos para essa condição”, esclarece.
Depressão: o paradigma quanto aos distúrbios está em constante desconstrução. “Agora quando essa sobrecarga é vivida por longos períodos, a pessoa passa a se sentir frustrada, a vida começa a se paralisar, porque não sobra espaço para outros crescimentos, desenvolvimentos, e vira uma rotina muito pesada. Ela vai se sentindo pior, cansada, sem energia, não consegue ter uma vida pessoal nem um autocuidado, vai se sentindo desvalorizada, abandona e isso aumenta o nível de ansiedade e depressão”, ressalta.
Isolamento: “O indivíduo se fecha e não conta com mais ninguém, quer se isolar. Tudo parece virar uma exigência, então ela enxerga qualquer outra demanda como uma tarefa, assim começam os problemas nas relações”, diz.
Deixar o autocuidado de lado: grande parcela deixa de olhar para si mesmo em meio às inúmeras funções. “Normalmente a pessoa perde o prazer em se cuidar, se arrumar e às vezes deixa de lado até os atos de higiene. Não se olha mais com carinho e atenção, pois a exaustão tomou conta e o autocuidado se torna mais uma tarefa em meio a tantas”, contextualiza.
Não buscar ajuda: essa é uma postura muito importante . “É possível tirar muito proveito da psicoterapia, porque ela vai compreender quais os motivos te levam a assumir todas essas responsabilidades de uma vez e provavelmente sozinha”, explica Luiz.
Torna-se evidente, portanto, a necessidade de tratar temas como esse no meio corporativo em prol da produtividade quanto do bem-estar geral. “O fundo fértil para um cuidado de saúde mental bem sucedido é um ambiente no qual as pessoas podem se expressar livremente, opinar, questionar, errar sem medo, inovar e pedir ajuda; onde cada um se sente pertencente, acolhido, cuidado e aceito. Criar um espaço psicologicamente seguro, então, significa cuidar da psique dos colaboradores e é uma peça fundamental nessa construção contínua”, finaliza Ines.
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