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Mulheres empreendedoras: quais as maiores dificuldades? 

Notícia | 27/09/2022

Carolina Amaral

No geral, empreender não é um processo fácil, é preciso arriscar e estudar bem a área, além de saber passar sobre as pedras no caminho e desafios aparentes. Isso tudo, principalmente, por não existir uma "receita de bolo" ou uma rota 100% definida. Contudo, mesmo diante dos obstáculos, cada vez mais mulheres decidem ser a hora de abrir o próprio negócio e se tornarem independentes. Entretanto, as dificuldades permanecem e vamos expor um pouco mais sobre o assunto agora.

 

A atual conjuntura nacional da área 

Durante a pandemia, mesmo com tantas empresas fechando as portas, o empreendedorismo disparou no Brasil. De acordo com dados do Ministério da Economia, foram cerca de 3,359 milhões de negócios abertos, contra 1,044 milhão encerrados. Um estudo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), realizado com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), mostrou como, após recuar para um total de 8,6 milhões, no segundo trimestre de 2020, o número de moças à frente de um negócio no país fechou o quarto trimestre de 2021 em 10,1 milhões, mesmo resultado registrado no último trimestre de 2019, antes da Covid-19.

Apesar dessa evolução, a participação feminina nesse universo no Brasil (34%) ainda está abaixo da melhor marca histórica, registrada no 4º trimestre de 2019, quando elas representavam 34,8% do total. "Os primeiros passos podem ser intimidadores para a grande maioria das pessoas, principalmente das mulheres. O acúmulo de papéis na empresa e a solidão da liderança tornam o dia a dia ainda mais difícil", comenta Daniela Graicar, fundadora do Movimento Aladas. 

Felizmente, mesmo com todos os empecilhos, cada vez menos elas pensam em se render. A razão disso é uma preparação em relação às habilidades emocionais. Entre as justificativas para se manter firme na decisão de seguir empreendendo, de acordo com a pesquisa “O Voo Delas” feita pelo Sebrae-SP em parceria com o Movimento Aladas, estão o sonho (43%), o já construído até então (34%) e a necessidade financeira (31%). “Esse grupo está criando coragem para pivotar suas carreiras, aprendendo a dizer ‘não’ e a gerir seus negócios com segurança e leveza”, aponta a profissional.

 

As maiores dificuldades de quem tem esse sonho

Tendo em vista a captação de recursos e a necessidade de delegar tarefas, a especialista comenta quais são as sete principais dificuldades encontradas nesse percurso:

1- Captar recursos: “elas são as mais adimplentes e mesmo assim encontram dificuldade de conseguir financiamento bancário. Se conseguem, acabam aceitando juros mais elevados (segundo o BMI, 3,5% a mais) pela dificuldade de negociar a condição oferecida”, analisa. 

Quanto à própria experiência, Daniela comenta sobre como é essencial entender o funcionamento do processo. “O fluxo de caixa foi um problema o qual enfrentei logo no começo. Quando fazemos a conta 'vou cobrar X e gastar Y' e essa diferença é positiva, a gente pensa estar tudo bem, mas isso não é real. Eu tinha 19 anos quando abri minha primeira agência de comunicação e não sabia a importância do fluxo e a quantidade de empresas quebradas no Brasil por falta de caixa. Apesar de ser uma matemática básica, nem sempre a colocamos em uma linha de temporalidade", explica.

 

2- Manter a vida pessoal e profissional juntas e cuidar de si: cultural e historicamente, na nação brasileira, é instituído a elas, por diversos fatores, o papel de cuidar do lar e da família. Contudo, esse acúmulo de funções traz ainda mais obstáculos para quem quer ter seu próprio “ganha pão”, pois a ele, somamos as novas responsabilidades de gerir pessoas, cuidar da renda, vender, fazer contratos, etc.

Por isso, Daniela reforça ser fundamental a distribuição das atividades. “Meus filhos entendem bem eu ter uma empresa. Ao mesmo tempo onde isso dá orgulho para eles, também traz uma série de responsabilidades para me ajudarem e apoiarem em tudo. Meu marido também sempre divide as tarefas de casa comigo. Esse trabalho em equipe precisa acontecer. Não é sobre ajudar e sim fazermos juntos”.

Além disso, a fundadora do Aladas comenta o quão necessário é cuidar de si mesma durante esse processo: “Nós somos as pilotas desse desafio. Precisamos cuidar de nós mesmas. Se não abrimos um tempo na agenda, não conseguimos chegar longe. Temos muito essa coisa de sermos mártires, mas quantos dias conseguimos trabalhar seguidamente e acreditar que isso vai ser bom para o negócio? A rotina exaustiva não se sustenta”, aconselha.

 

3- Saber dizer “não”: conseguir negar algo não é fácil, porém real e necessário. Tanto iniciantes, quantos já ingressas, muitas vezes tentam agradar a todos e isso, além de trazer desgaste, não é precisamente primordial. “Acaba dificultando o foco, porque passamos a assumir um monte de coisas, mas quando olhamos a agenda no fim do dia, as ações feitas foram apagar uma série de incêndios pequenos sem de fato construir algo relevante”, esclarece. Por isso a dica é: saber dizer “não”, abrindo um tempo para você e para suas prioridades. 

 

4- Aceitar críticas: quando criamos uma marca, produto ou serviço, saber lidar com feedbacks, sejam eles positivos ou não, é crucial para ajudá-lo a prosperar. Entender como receber críticas é normal e pode contribuir bastante para o desenvolvimento ao longo do percurso (não há unanimidade nesse quesito). “Era um cliente insatisfeito, alguém indo até as redes sociais dizer como aquilo era ruim, ou ainda uma pessoa dentro da equipe falando ‘estou indo embora porque seu modelo de gestão não é bom’. Aquilo me feria, pois eu tinha uma necessidade de aceitação muito grande. Fui aprendendo como é relevante lidar com isso e compreender: ninguém agrada a todos. Quanto mais a gente cresce, maior o sinal de termos entregado algo de valor aos clientes e maior, também, a possibilidade de desagradar às pessoas. Ser criticada é do jogo!”, comenta Daniela.

 

5- Saber negociar: outra dificuldade apontada pela fundadora do Movimento Aladas é justamente não saber exigir o quanto, de fato, valemos. “É fundamental cobrar um valor respeitoso pelo nosso trabalho. As pessoas costumam pedir muito de graça, pechincham, querem desconto, permuta. Demorei anos pra entender como permuta em restaurantes ou em produtos não paga a minha conta de luz ou os funcionários. Precisamos ser firmes para garantir estarmos cobrando um valor justo”. Entretanto, como saber qual o preço ideal? Uma boa pesquisa de mercado e reflexão sobre quanto você investiu para adquirir esse conhecimento pode servir de norte. “Não te pagam somente pelo tempo o qual você leva pra fazer um serviço, mas pelos anos de estudo dedicados. Não existe tabela de retribuição, existe o determinado por você o quanto alguém está disposto a desembolsar”.

 

6- Saber delegar: contar com colaboradores confiáveis para serem encarregados de determinadas atividades é fundamental. “O negócio não pode ser do tamanho da sua agenda, mas do seu sonho”, revela Daniela. Por isso, aprimorar a habilidade de delegar afazeres, justamente para suprir essa necessidade, precisa ser levada em conta. “Nem centralizar e nem delargar, porque despejar as tarefas sem explicar suas expectativas e ensinar o seu jeito de fazer pode ser um perigo. O caminho do meio é uma bela escolha para dar autonomia e reter talentos”, indica.

 

7- Não desistir: de acordo com a especialista, esse é o desafio mais difícil de todos, pois tende a ser uma vontade quase diária, seja para quem ainda está começando ou as experientes. “Eu entrevistei dezenas de mulheres e perguntei: ‘você já pensou em desistir?’. Todas responderam: ‘sim, quase todos os dias’. Quando ouvimos isso, sentimos um conforto difícil para todo mundo e como pensar sobre, faz parte do processo, mas desistir, de fato, não”, informa.

Por fim, ter sempre em mente qual o objetivo e o porquê dele ajuda a manter a disciplina e o foco. “Você deu o primeiro passo por alguma razão a qual deve fazer sentido até hoje e ela recarrega nossa energia para seguir adiante. Eu guardo os e-mails de agradecimento e de elogios numa pasta de arquivos para alimentar minha alma quando alguém me faz questionar minha vocação empreendedora”, finaliza.

 

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