Os recursos cibernéticos vieram para auxiliar e facilitar nossa rotina nos mais diversos campos da vida. Assim, temos soluções para pedir uma carona, comprar um produto, fazer transações bancárias, GPS para não perder o caminho, troca de mensagens em tempo real, entre várias outras. O problema é quando se cria uma certa dependência dos recursos, principalmente quando se diz respeito à dispersão do foco.
Onde está sua atenção?
Para Celso Braga, sócio-diretor do Grupo Bridge, psicólogo e mestre em educação, a preocupação com a utilizando das comunicações do universo virtual é não se atentar às circunstâncias do mundo físico. “As pessoas estão, na maior parte do tempo, respondendo ou enviando e-mails, mensagens de WhatsApp ou postando e curtindo mensagens no Instagram, Facebook, Linkedin… O problema é quando fazem isso sem se importarem com o momento quando isso ocorre”, afirma.
Isso já aconteceu na vida de Jaqueline Borges. Ela estuda publicidade na Universidade Estácio e estagia na área, no Rio de Janeiro. “Em almoços em família, encontros com amigos, até mesmo no estágio já fiz isso, de ver as notificações e parar tudo para dar uma resposta”, conta.
Ela disse já ter feito isso mesmo com solicitações não urgentes. “Tive de trabalhar meu senso de importância das coisas para poder me controlar”, diz.
Justificativas são plausíveis?
De acordo com o especialista, as pessoas podem estar presentes, mas suas mentes nem sempre. “No meio de uma reunião, na qual deveríamos dialogar para entender algo em profundidade, a gente olha para os participantes e vê várias pessoas com o celular na mão. Exemplos não faltam, desde o famoso ‘desculpe, meu chefe quer uma resposta agora’ ou ‘é um problema e meu colega precisa de resposta agora’”, expõe. Esse tópico pode, inclusive, ser aplicado no contexto atual de quarentena, quando, por suposição, há uma videoconferência com os companheiros de equipe e alguns membros se dispersam ao checar o smartphone.
“Estar fisicamente em algum local não quer dizer necessariamente também estar concentrado naquilo a ser feito. Isso tem sido um problema a ser administrado”, expõe. Além disso, isso não está relacionado apenas com o contexto corporativo: “você vê casais saindo para jantar e conversar, mas ambos estão olhando seus celulares”, expõe.
Para ele, estamos vivendo um presenteísmo: “passamos mais horas no lugar, mas nunca estamos lá de verdade, pois ficamos conectados em muitos locais simultaneamente. Esse fator traz muitas angústias, faz nossa atenção não captar coisas importantes e nossas decisões acabam sendo tomadas baseadas em fragmentos e não do todo”, alerta Braga.
Falta de precisão
Um dos principais desafios com isso é a perda de precisão nas ações. “Se formos – e estamos sendo – menos assertivos, causaremos desastres nas nossas vidas e nos negócios”, diz. Como não estar o tempo todo conectado e mesmo assim dar retornos rápidas para cada mensagem? “Por um lado, o chefe cobra de seus colaboradores a onipresença, o cliente também faz essa demanda. Por outro, os parceiros (sejam homens ou mulheres) exigem essa dedicação, assim como filhos e pais cobram um do outro a mesma devoção virtual”, comenta o especialista.
Parar é a resposta!
Se queremos estar mais plenamente nos contextos, precisamos urgentemente parar e nos dedicar a sermos mais profundos. “Isso começa ao pedir um período para dar a resposta, por exemplo, assim a gente consegue pensar sobre qual o retorno. É verdade: não teremos tempo para tudo, mas onde estivermos, estaremos de verdade e tomaremos melhores decisões”, compartilha o psicólogo.
É possível utilizar o telefone móvel constantemente no universo organizacional? Descubra!